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Intervenções Sistêmicas com Casais: de Cactos à Flores

Nina Guimarães

Vanessa Campos-Miranda



Nós, terapeutas sistêmicos, estamos habituados a trabalhar com solos áridos, solos que foram abandonados há muito tempo e, por esta razão, carecem de adubos e fertilizantes que forneçam condições favoráveis para florir. É nesse território desértico que o terapeuta de casal adentra, tendo que saber lidar com os espinhos de um relacionamento, as fissuras de uma terra rachada pelo tempo em que esteve abandonada. Nós, jardineiros, aramos o solo com as próprias mãos, tocamos na terra para adubá-la. Atravessamos a extensão territorial desde os cactos até às flores. Regamos as relações que passam por nós e nos familiarizamos das condições climáticas para escolhermos, com o casal, as sementes a serem plantadas. Um pomar germina entre mãos que afofam as dores, mastigam as mágoas e plantam as esperanças.


Através desta metáfora as autoras discorrem sobre intervenções terapêuticas sistêmicas que instrumentalizam práticas clínicas com casais. Percorrem atendimentos de terapias conjugais minuciosamente, desde quando o cliente (a relação) chega com um pedido de terapia com as fissuras de um solo rachado e estéril, até alcançar o pomar que desejam, quando se dispõem a investir no compromisso de manter tamanha beleza, reconhecendo a necessidade de regar, diariamente, essa paisagem tão desejada. Não se trata de uma idealização, mas, sim, de um compromisso. Ser casal, não importa a modalidade, significa resistir, lutar, explorar solos para chegar às conquistas com sorrisos, suor e lágrimas.


No ritmo acelerado de nossos tempos, eis que surge um desejo de ser casal


No ritmo acelerado do mundo contemporâneo adquirimos o hábito de superficializar nossos encontros sem fixarmos compromissos de uma relação mais longeva, onde os envolvidos na relação correm o sério risco de perder a sensibilidade entre eles. Em um mundo cada vez mais descartável, somos convidados a refletir em que condições habitamos os cenários de nossas vidas, como lidamos com nossos relacionamentos afetivos e como regemos as uniões que nos propomos a viver. Atravessamos momentos críticos que nos convidam a mortes simbólicas ou reais de relacionamentos onde percebemos facetas de nós mesmos desconhecidas, até então.


Para quem não tem familiaridade com os escritos de Zygmunt Bauman (2001, 2004; BAUMAN; DONSKIS, 2014), um grande expoente da sociologia que tanto contribuiu com os diálogos sobre relações líquidas, a adjetivação pós-moderna deste autor, atribui aos fenômenos atuais as mesmas propriedades presentes nos líquidos, a experiência relacional líquida é aquela que facilmente se dissolve, evapora e dissipa de nosso controle, de nossa consciência e de nossos valores mais absolutos. Na transitoriedade e na banalidade de nossos laços afetivos, o compromisso é um palavrão, significando a contramão de como a pós-modernidade se apresenta. A palavra de ordem é, ao invés disso, o descaso, a indiferença e o individualismo exacerbado que sufoca qualquer tentativa de coletividade. O individualismo se expressa ferozmente, induzindo-nos a assumir relacionamentos frágeis, vazios e fortuitos, onde o olhar cuidadoso e genuíno às necessidades do outro se perde como uma esquecida nota de rodapé na pós-modernidade.


E eis, que em meio a este cenário turbulento no quesito da vinculação, casais se formam e se dissolvem, com mais ou menos consciência sobre a permanência ou a ruptura do vínculo, e o terapeuta de casal surge como a figura que transita por esses arranjos relacionais mapeando histórias de encontros e desencontros que, aos poucos, configuram os diversas modalidades de relacionamentos da atualidade, com suas características e peculiaridades que afligem, sufocam, nutrem e desvanecem parceiros e parceiras que travam batalhas na tentativa de formarem um “Nós”.


A velocidade de ritmos acelerados implica no desejo de estarem juntos, compartilharem momentos e emoções em contrapartida aos compromissos, obrigações e adesão ao ritmo acelerado de nossa época que não nos proporciona tempo para realizarmos tal desejo. No final de uma jornada dura, os parceiros estão exaustos e desprovidos das mínimas condições para a construção de uma parceria que exige esforços, motivações e qualidade nas horas necessárias para que este encontro aconteça. Carreira, filhos, babás, diaristas, dietas, malhação, promoções laborais e outras intervenções em função do alcance da perfeição nos afasta da oportunidade de, simplesmente, encontrarmos-nos para estarmos juntos com a qualidade e a disposição necessárias para um encontro verdadeiro.


Mapear com o casal a dinâmica de suas vidas e do relacionamento torna-se útil para que iniciemos alguma mudança pragmática na relação. Assim,


Como podemos, juntos, em terapia equacionar diferentemente a vida diária e estabelecer com o casal novos parâmetros de relação? Como mediar uma renegociação de compromissos e prazeres sem que eles sejam sequestrados pelas exigências dessa modernidade líquida?


Escavar os prejuízos do volume de obrigatoriedades e exigências de cada um dos cônjuges que se propõe a estar em um relacionamento pode ser um primeiro passo em direção ao investimento na relação. Nesse contexto, torna-se útil investigar em cada um dos cônjuges a motivação e a disponibilidade para rever seus comportamentos e atitudes em prol do relacionamento.


Você acredita que exista alguma atividade na sua vida que acaba afastando o casal? Estaria disposto a rever seus hábitos e hobbies para tentar recuperar uma intimidade relacional?


Promover conversações terapêuticas que aprofundem a conscientização de ambos sobre comportamentos e posturas atuais permite aos parceiros revisar os passos em direção a uma nova relação mais saudável. Porém, às vezes o casal não encontra sozinho esses passos. Algumas tarefas terapêuticas podem ser passadas no intuito de ajudá-los a encontrar o tom desse novo contrato. Para cumpri-las, sondamos a rede de apoio do casal, as pessoas que podem facilitar os encontros que promovam intimidade relacional. Por exemplo,


Vocês contam com o apoio de uma rede que possa estar com os filhos em noites eventuais ou viagens curtas que possam estimular a aproximação de vocês?


O cumprimento dessas tarefas permite ao casal recuperar momentos à dois esquecidos há tempos pelos compromissos parentais. O terapeuta, em sessão, explora como ocorreu esses momentos, quem fez o convite, como cada um sentiu, o que teria sido ainda melhor que não foi possível em um primeiro encontro, o que dessa noite ou dessa viagem proporcionou intimidade relacional, etc.


A terapia como cenário uterino que gesta, pari e valida os diferentes modelos de relacionamentos contemporâneos


A terapia é um cenário privilegiado de legitimação do respeito às diferenças. É um espaço de conversação que atravessa os tempos e as transformações oriundas dos novos modelos que surgem na pós-modernidade. O número crescente de separações, os novos arranjos familiares e os recasamentos tomam forma quanto mais nos dispomos a dialogar.


Os casais heteroafetivos vêm adequando suas necessidades às mudanças relativas à queda do patriarcado e ao movimento de emancipação feminina que propõem discussões sobre novas dinâmicas relacionais de parceria e novas reflexões acerca das identidades de gênero masculino e feminino. O homem preso ao ideal de esposa servil e submissa, cuja imagem está atrelada à “rainha do lar”, se paralisa, resiste à autonomia e igualdade de poder na relação, persevera na inadequação de padrões antigos estratificados dos papéis femininos e masculinos no relacionamento. Como terapeutas, assumimos o lugar de ativistas políticos, não reproduzindo na terapia os discursos dominantes de uma cultura que privilegia o homem e desmerece os direitos e as novas realizações da mulher. Geralmente as queixas que chegam aos nossos consultórios relativas às transformações de relacionamentos heteroafetivos são:


O que eu faço com a independência da minha mulher? Ou, como suporto esse homem que amo, apesar de seus retrocessos machistas?


que, para o terapeuta de casal se estrutura em,


Como instrumentalizar os casais a tolerar as novas exigências por posturas paritárias nos relacionamentos, garantindo a ascensão feminina e legitimando as diferenças de gênero no setting?


Não permitimos que o setting seja palco de discriminações, contrariamente, construímos diálogos que consolidam o direito de existência e de convivência respeitosa com todas as modalidades de relação que surgem em momentos distintos da história, hoje traduzidos nas formas mais fluidas de ser e estar no mundo, que implicam constantes transformações e redefinições. São modalidades que nos procuram ainda sem nomeação, permeadas de sentimentos confusos e discriminações ferozes. Necessitam do acolhimento e da legitimidade de um profissional que se empenha para compreender a complexidade com a qual se depara. Alguém que se dispõe a trabalhar com a curiosidade de novos parâmetros relacionais, sem julgamentos que postergam o direito de existência daqueles que “fogem à norma” e merecem a dignificação de suas novas digitais. Desde esse cenário, na perspectiva de relacionamentos homoafetivos, aos nossos consultórios aparecem solicitações como,


Como fazemos para nossas famílias aceitarem e legitimarem nossa relação? O que é necessário para que os olhares externos não nos marginalizem?


Ou, desde a perspectiva do terapeuta,


Como garantir e validar as escolhas afetivas, ainda tão pouco reconhecidas em nossa sociedade contemporânea?


Nos casais homoafetivos as questões relacionadas ao poder, aos papéis socialmente construídos e esperados daqueles que ficam em casa em detrimento daqueles que funcionam como provedor principal também existem e sofrem influência do discurso machista e patriarcal que nos constituiu enquanto sociedade. Mas uma questão crucial é o reconhecimento e legitimação do relacionamento especialmente pelo grupo familiar e no ambiente de trabalho. Enquanto ativistas políticos (WHITE, 2012), nós, terapeutas, temos a responsabilidade de contextualizar sócio- -historicamente o casal demonstrando como os discursos sociais dominantes contribuem para a construção do sofrimento vivido por eles e como suas próprias narrativas podem proporcionar transformações no contexto do qual formam parte. Ao trazer a perspectiva da re-coconstrução narrativa da história do casal e do seu entorno caminhamos juntos visualizando, nomeando e desmembrando os grandes impedimentos apresentados enquanto problemas. Essa exploração de partes do solo pouco habitadas nos surpreende com sinais de água abundante que cavando conjuntamente conseguimos acessar. As garantias e validação das escolhas afetivas de quaisquer casais, grupos e/ou indivíduos se constroem entre os mesmos quando conscientes de quem são, onde estão, para onde desejam ir, com que meios se deslocarão e quais desafios os esperam no caminho.


O caminho da construção das garantias possui várias etapas. Dependendo do momento de individuação do casal e do quão diferenciado esse casal já é dos modelos preexistentes nas famílias de origem de cada um dos parceiros, o processo terapêutico terá singularidades. Podem ser necessárias mais ou menos sessões individuais com cada membro; as construções em sessão serão mais ou menos consistentes e duradouras e, inclusive, o casal se manterá ou não em processo até a alta terapêutica.


Como construímos um contrato de terapia conjugal?


Geralmente o casal sente a necessidade de um mediador para sua crise, mas não tem ideia de como o processo ocorrerá. O terapeuta deve explicar que o cliente é a relação, que as sessões serão em sua maioria com os dois presentes e, em eventuais ocasiões, podem ser feitas sessões individuais com cada um deles, sempre no intuito de beneficiar o sistema conjugal. Quando ocorrem essas sessões a consigna tem que ser clara para o cônjuge que comparece: qualquer conteúdo por ele expresso pode ser usado em sessões futuras de casal, caso o terapeuta considere útil e benéfico para o processo. Assim, possíveis conteúdos relacionados a segredos na família ou entre os cônjuges são evitados, visto a possibilidade de poderem ser revelados.


Após esclarecermos pontos referentes à estrutura das sessões, partimos para a primeira escuta dos conteúdos trazidos pelos cônjuges. Nesta primeira fase ouvimos e acolhemos os diferentes pontos de vista incentivando os parceiros a repensarem suas próprias histórias, saírem da versão única e saturada com que chegam a um primeiro encontro, presos ao seu próprio ponto de vista que obscurece uma possível escuta efetiva e generosa do sofrimento do parceiro.


É natural alguma tensão e constrangimento por parte dos clientes, já que estão diante de um mero desconhecido, a quem revelarão conteúdos íntimos. Cabe ao terapeuta ir diluindo essa tensão ao respeitar os relatos expostos por cada um, demonstrando curiosidade para compreendê-los. O acolhimento e a quebra do constrangimento ou da ansiedade pode ser feito com a seguinte pergunta:


Antes de falarmos do que os trouxe aqui, hoje, gostaria de conhecer um pouco de vocês. Por exemplo, como você se caracteriza enquanto pessoa, que atividade faz, desde quando, gosta do que faz, tem se realizado nisso? Em relação à sua família de origem, tem pais vivos, quantos irmãos, é o mais velho, ou mais novo? Já esteve em algum outro processo terapêutico? Como foi? O que você me diria dessa experiência?


Com essas perguntas o terapeuta vai ajudando o casal a diluir tensões e amarras entre eles, além de favorecer uma conversação fluida que introduz uma pequena intimidade necessária para chegarmos a falar mais pontualmente da crise pela qual estão passando. Temos acesso a algumas características deles que nos dão pistas sobre possíveis reações. Conhecer a pessoa e a relação ajuda a compreender mais acuradamente o dilema conjugal.


Também é oportuno esclarecer a importância deles ampliarem a escuta habitual sobre o que o outro fala, inclusive, esclarecendo nossa postura profissional de, eventualmente, interrompermos os discursos para garantir uma escuta ampla e diferente da que eles estão acostumados. Nem sempre os clientes cumprem a consigna da escuta, o que implica no terapeuta intermediar e ilustrar com intervenções que “barrem” as possíveis interrupções que desconstroem o raciocínio e dificultam a empatia pelo que o parceiro fala. Por exemplo:


Desculpe te interromper, mas eu preciso entender melhor esse ponto. Antes de avançarmos, você poderia me explicar melhor o que acabou de dizer? Que significado você está atribuindo a essa palavra? O que quer dizer exatamente com isso? Será que seu parceiro(a) vê da mesma forma? Atribui o mesmo significado que você?


Eu também preciso da paciência de vocês para as minhas interrupções. Imagino a ansiedade de chegar logo no ponto que os trouxe, mas precisarei me certificar de estar seguindo o mesmo fluxo de pensamentos de vocês, ok?


Outra dimensão importante diz respeito à comunicação. É comum que os parceiros escolham falar “tudo” de uma única vez sem ser interrompido pelo outro ou pelo terapeuta. Essa forma de se expressar dificulta a regência da terapia, porque às vezes necessitamos fazer pontuações imediatas à fala do cliente, bem como questionar o parecer do parceiro sobre o que está escutando. Desta forma, os temas devem ser abordados por vez, e as interrupções se fazem necessárias para que as ideias a respeito dos assuntos sejam organizadas, estruturadas e repensadas no setting na medida em que são expostas. Intermediar um relato com a mediação de um profissional os auxilia a seguirem com esse padrão em cenários para além da terapia. Quando argumentam que a interrupção prejudica o raciocínio, podemos pedir, em alguns casos, que eles tragam por escrito o que querem tratar naquele encontro, assim, a sensação de “perder o fio da meada” pode ser compensada por intervenções terapêuticas que produzem novos significados para os fatos relatados, diminuindo a frustração de não poder "vomitá-los", mas, de forma benéfica, perceberem as emoções atreladas a eles.


Explorar a crise conjugal significa favorecer através do diálogo a conscientização e a corresponsabilidade de cada um dos parceiros nessa crise. Questionamos como ela se instalou, como a crise vem afetando a vida e o relacionamento deles e daqueles que estão por perto. Por exemplo, quando os filhos são requisitados pelos pais para fazerem parte do conflito deles, vivendo, muitas vezes, um conflito de lealdade pois, para atender a um dos pais se sente desleal com o outro. Neste caso questionamos:


Qual tem sido a participação dos filhos nos problemas de vocês? Como eles agem em relação a cada um dos pais? Na idade em que estão vocês acreditam ser útil participá-los do que vêm acontecendo entre vocês?


Ainda referente à consciência e responsabilidade na crise conjugal, destacamos a necessária excursão pelos modelos de famílias de origem de cada um e dos vínculos estabelecidos por cada cônjuge. Manter-se atrelado à família de origem pode prejudicar o desenvolvimento do núcleo atual, das consignas e propósitos específicos desse novo sistema formado, que sofre influências, mas não é determinado por quem lhes precede. Qualquer relação com os familiares não pode abalar e invadir a intimidade relacional do casal. Desse modo, a terapia ajuda os parceiros a reconhecerem os emaranhamentos e os limites saudáveis a serem estabelecidos. Alguns questionamentos podem esclarecer a relação que cada um dos parceiros estabelece com sua família de origem, tais como:


Como é a ligação de vocês com suas famílias de origem? Elas têm sido um farol, ou seja, um parâmetro para o relacionamento de vocês? Os pais de vocês sabem o que estão passando? Interferem, opinam? Tem algo em relação à família de origem do outro que gostariam que fosse diferente? Como gostariam que fosse?


Outro ponto fundamental da terapia de casal diz respeito às tarefas, um recurso terapêutico que mantém o casal vinculado ao processo durante o intervalo entre as sessões. Alguns questionamentos trabalhados em sessão devem ser levados para casa para que possam vivenciar propostas de mudança através das tarefas terapêuticas. O cumprimento, o esquecimento ou a dificuldade de exercê-las também servirá como conteúdo terapêutico.


Idealizações e expectativas frustradas no casamento


Nós, terapeutas de casal, também lidamos com relacionamentos que entram em crise em função de expectativas por um dos parceiros ou ambos estarem sendo frustradas. Os cônjuges chegam com queixas um do outro que não correspondem à realidade, mas se sustentam, em sua maioria, nas expectativas ocultas que nem sequer foram reveladas ao outro. Assim,


Casamos realmente com alguém que já conhecemos e reconhecemos as dificuldades em uma convivência ou escolhemos manter nossas idealizações, mesmo nos assustando quando o “príncipe” ou a “princesa” não chega?


Muitos cônjuges apresentam essa frustração e é curioso como o outro cônjuge se surpreende com o que esperam dele. Essas idealizações podem ser construídas no cenário da família de origem de cada um, quando desejam reproduzir na relação atual o que vivenciaram e gostaram em seus pais, ou podem ser assimiladas da cultura, ainda fruto de um ideal romântico, distante dos parâmetros de uma relação atual, cujas bases de um relacionamento são diferentes e mais igualitárias quanto aos direitos e deveres dos parceiros.


Uma investigação pormenorizada da história da família de origem de cada um dos cônjuges pode ajudar no tratamento, não apenas porque identificamos de onde parte a expectativa, mas, principalmente, porque atualizamos a expectativa e sondamos a disponibilidade do parceiro em atender à mesma.


Em casos de relacionamentos mais longevos, o casal pode apresentar dificuldades em atualizar a própria versão de si ou do outro e, assim, os problemas surgem quase como uma “traição” por parte daquele que mudou em relação a quem era quando casou. Conforme o tempo passa, é natural que passemos por inúmeras transformações, inclusive no nosso papel conjugal, nos nossos desejos, preferências, opiniões, etc. Desse modo, o casamento está constantemente se atualizando. Os parceiros vão demonstrando suas mudanças e adaptando a relação às mesmas. Porém, em alguns casos não é possível permanecer no relacionamento pois as mudanças reveladas por um deles não são compatíveis ou razoáveis para o outro. Se um deles passa a ser um “estranho” inadministrável é possível que a terapia seja o território para esta constatação e a possibilidade de uma separação é aventada por eles ou pelo terapeuta.


Já houve momentos na relação de vocês onde não se reconheceram? Pensaram de não estar casados com a mesma pessoa? O que fizeram? Tentaram voltar ao ponto de partida ou se adaptaram às exigências das mudanças de cada um no relacionamento?


Ou ainda,


Algum dos dois teve coragem para admitir uma separação?


As fissuras de uma quebra de contrato conjugal por traição


A traição é um dos fenômenos mais frequentes da clínica que favorece ao casal uma revisão de sua relação quando os parceiros encontram espaço e maturidade para explorá-la na terapia. Mergulhar na dor que esta experiência provoca pode significar a construção e o amadurecimento de novas bases para o relacionamento. Aquela relação anterior acabou, cada um dos envolvidos necessita entender essa fissura e partir para um novo contrato relacional.


Sem dúvida alguma, é uma experiência traumática que desestabiliza o relacionamento e a visão que sustentávamos de nós mesmos e do outro, pois a confiança que precedentemente tínhamos naquele que traiu ou em nós, traídos, esvanece e nos vemos diminuídos e desprezados (TURNATURI, 2000).


Geralmente é um tema de muita dor no setting, que exige um manejo do terapeuta entre deixar que o cônjuge traído expresse sua mágoa, sua dor e seu ressentimento, ao mesmo tempo em que escuta quem traiu para ampliar a compreensão sobre o fato alertando os perigos que o casal corre nessa situação. É muito frequente, por exemplo, que o cônjuge traído tenha o “trunfo” de espezinhar o traidor, esquecendo que a continuidade dessa manobra pode ruir as esperanças de qualquer continuidade do relacionamento. Quando isso ocorre gostamos de interromper a descrição da traição para dizer,


Desculpe interromper vocês, sei como esse tema é doloroso e mobilizador. Vejo diante de mim emoções fortes de raiva de sua parte, constrangimento, vergonha e culpa de sua parte, mas não podemos deixar de pontuar que a forma com que vamos nos referir ao evento da traição na vida de vocês pode ajudar ou piorar o futuro dessa relação. Posso, portanto, interromper o discurso de cada um no momento crítico em que considere perigoso, ok?


Após fazermos esta consideração podemos entender, por exemplo, que o único interesse do traído é conseguir novas informações sobre o episódio dramático, sobre a terceira pessoa (o amante), sobre momentos que lembra com desdém e desconfiança, desejando encontrar onde está a verdade e a mentira, tendendo sempre a reduzir o relacionamento a uma grande mentira. O conteúdo que é permitido e explorado em sessão passa pelo crivo do terapeuta. Por exemplo, é injustificável que escutemos, como profissionais, detalhes sórdidos que possam aparecer numa investigação desesperada de quem foi traído - ele(a) era melhor do que eu? Quais posições sexuais você experimentou com ele(a)? São informações inúteis que só destroem mais o que já está frágil e o profissional pode “emprestar” seu discernimento a quem está desatinado interrompendo seu compartilhamento. O setting é um balizador para o controle necessário para lidar com o tema, funcionando como parâmetro para as discussões fora da terapia.


O trabalho terapêutico é diferente a depender do tipo de traição? Será que o tamanho da traição interfere nas consequências? Grande ou pequena, a traição sempre exige definições e redefinições da identidade dos envolvidos, de quem querem ser para si e para o outro. Mas elas diferem umas das outras. Há traições curtas, com amantes desconhecidos, em épocas de crise do casal, com uma qualidade relacional que deixava a desejar. Outras traições são longas, com a mesma pessoa, em momentos delicados para o parceiro ser descuidado (gravidez, morte de um ente querido, por exemplo), quando o amante é alguém íntimo do casal, que convive habitualmente entre eles. Certamente a qualidade da traição interfere na avaliação do grau de motivação de cada um dos cônjuges e das possibilidades de superação.


Em primeiro plano o espaço terapêutico dá margem para as mágoas e só depois de percorrer um cenário de raiva e lágrimas o terapeuta encontra brecha para avaliar, junto ao casal, as condições deles tentarem permanecer juntos, com outras cláusulas para cumprir. O contrato é com o processo terapêutico e com a nova relação após a traição. Aquela relação que existiu, acabou. Esse é um fato a ser encarado no setting. A traição foi, inclusive, um dos muitos indícios de que aquele relacionamento entrou em crise e não estava mais sendo satisfatório, pelo menos para um dos envolvidos. Cabe ao terapeuta estabelecer algumas condições contratuais da terapia. Por exemplo, a terapia fica invalidada se o amante permanece triangulado ao casal, ou seja, se ele não é descartado, pois o investimento na relação fica prejudicado, quando a atenção do traidor permanece desfocada da relação e dividida entre dois parceiros(as). Outro ponto a ser observado é que, as agressões verbais que, por ventura, surjam no setting, devem ter um limite de tolerância para todos que dele participam. Caso contrário, o terapeuta poderá ficar exposto a conteúdos íntimos que não lhe dizem respeito.


Quando a terapia é do casal de pais


Um tema recorrente na terapia de casal é como lidar com formas tão distintas na educação dos filhos. Muitas vezes cada um dos cônjuges expressa a educação que obtiveram de suas famílias de origem e ficam arraigados a esses modelos, o que para o outro cônjuge parece injustificável e inaceitável, além de inoportuno para o novo sistema formado que requer novas regras de como educar um filho. Nesse caso, o casal de pais é acolhido, escutado e convidado a repensar as práticas educativas que vivenciaram enquanto filhos, a adequação delas às crenças socioculturais e transgeracionais que permeiam o universo da família, necessitando das devidas adaptações ao cenário atual.


O terapeuta começa pela escuta dos modelos de educação vigentes, das prioridades de cada um no exercício parental, bem como das influências socioculturais. Esse mapeamento permite ao casal repensar suas práticas educacionais, compreender melhor as do parceiro até poderem chegar a um “acordo possível”.


Em casos de pais separados a dinâmica pode ser mais complexa e exigir mais do terapeuta. Pais separados podem ainda estar presos a questões relativas ao casamento e a uma separação difícil, o que torna a regência do setting mais delicada. Nesses casos, os entraves para os possíveis acordos parentais necessitam de sessões individuais onde conteúdos remanescentes sejam elaborados na ausência do outro parceiro para evitar maiores constrangimentos. Não é adequado que o terapeuta deixe as mágoas de um deles expostas ao outro. Neste caso, sessões separadas preservam o mapeamento de resquícios do casamento e da separação ainda mal resolvidos, adequando o espaço terapêutico às demandas parentais. Assim, a terapia avança com possíveis sessões individuais até que o casal de pais possa novamente retomar as sessões conjuntas em prol dos filhos.


Outra temática que leva o terapeuta, muitas vezes, a fazer sessões em separado com o casal diz respeito à construção de uma paternidade efetiva associada às necessidades do mundo contemporâneo. As transformações sociais resultantes da mulher no mercado de trabalho, se dividindo entre a realização profissional e os cuidados domésticos e maternos passa a exigir do homem um outro posicionamento em casa e com os filhos. Além do sistema familiar requerer uma revisão de sua atuação, os próprios pais não se satisfazem mais apenas como provedores do lar, gerenciadores patrimoniais e afirmadores da lei familiar (Amaral, 2014).


Por fim, sabemos como terapeutas que o cenário complica quando os pais são separados. Em muitas separações em que o homem perde a guarda compartilhada dos filhos, se nota de forma concomitante uma resistência à ideia de manter sua paternidade ligada apenas a fornecer pensão alimentícia e o medo de ser depreciado pela mãe para o filho, de sofrer alienação parental. Assim como as mulheres, graças às determinações e narrativas sociais sobre o papel de mãe, têm dificuldade em reger situações de guarda compartilhada e a administração da vida familiar após a separação. Ambas situações são geradoras de inúmeros conflitos, confrontos e sofrimento para todos os envolvidos. A terapia de casal de pais, às vezes, é o único contexto possível do casal se encontrar em prol dos filhos, resultando, assim, num lugar privilegiado de sobrevivência de todos os envolvidos na ruptura de um casamento. Se retomamos a metáfora do início do artigo, de cactos à flores, podemos ver um terreno com diferentes espécies de flores plantadas em solo pouco tratado para a quantidade e complexidade de espécies que dividem o território. O eu, tu, ele, nós, vós, eles não se adaptam em solo estéril, mas, sim, numa terra que permita o ajuste e a convivência de cactos e flores.


As interrupções e o abandono do processo na terapia de casal


A terapia de casal assim como a terapia individual segue por trajetórias que podem conter interrupções e abandonos. Até quando a questão apresentada para interrupção da terapia está relacionada ao financeiro, aponta também para um conteúdo conjugal que está emaranhado em tantos sentimentos e experiências que formam um grande nó difícil de ser desfeito e também relativamente “confortável” de se conviver por ser conhecido. Na grande maioria dos relacionamentos, inclusive consigo mesmo, existem nós e com o passar do tempo desenvolvemos uma relação com a existência deles. Nas relações conjugais ocorre o mesmo.


Quando a terapia alcança um grande nó é um momento de reflexão. Tocar um ponto que desembaraçará temas que levamos administrando na contenção por muito tempo exige uma pausa e, muitas vezes, a necessidade de recuar. Seja por não estarem preparados, enquanto casal ou enquanto indivíduos, para enfrentar o desconhecido (ainda que esse desconhecido seja a ponte para a construção do bem estar relacional almejado) ou pelo desejo de preservar o familiar, o casal faz um movimento de descontinuidade.


Por diferentes formas se percebe que um processo terapêutico se encaminha para a descontinuidade e cabe ao terapeuta reconhecer e trabalhar as situações apresentadas nomeando o ocorrido, e oferecendo um fechamento ao trabalho realizado sempre que possível. De uma forma mais didática podemos observar casos em que, casais assíduos desmarcam um ou dois encontros; desmarcam sessões em cima da hora sem que estejam vivendo uma situação emergencial; cônjuges aparecem desacompanhados em sessões conjuntas; quando se aborda o tema financeiro ou de trabalho como empecilho à manutenção das sessões (que é diferente de quando se tenta negociar uma forma de continuidade devidos a essas questões); quando a implicação e participação no setting se esvazia deixando o terapeuta com a sensação de que o trabalho está solto ou desalinhado. Algumas perguntas podem ajudar o terapeuta a metacomunicar o momento vivido e, enquanto especialista do processo, prover o redirecionamento ou fechamento do mesmo, tais como:


As últimas desmarcações me levaram a questionar se em algum momento da nossa trajetória a importância ou necessidade das nossas sessões se modificou. Como vocês têm visto nossos últimos encontros?


Vejo que hoje você também veio sozinho (a), ainda que tivéssemos combinado de fazer a sessão conjuntamente, o que vocês acordaram sobre esse encontro? Como você acredita que esse acordo afeta a continuidade do processo?


Há X sessões atrás abordamos um tema que costuma ser muito desafiador nos processos de terapia de casal. E desde lá fiquei com a percepção de que as nossas conversações estão meio soltas ou esvaziadas… Como você têm visto?


Obviamente a impossibilidade de seguir a terapia por questões financeiras e/ou de trabalho é legítima, assim como é legítimo o desejo de interromper um processo terapêutico em qualquer momento. Vamos então utilizar essa sessão para sistematizar o que trabalhamos nesse período e quais os recursos desenvolvidos por vocês?


Cada uma das perguntas apresentadas abre a possibilidade de reflexão conjunta sobre o momento vivido e auxilia no desenvolvimento de uma conversação sobre o/os nós encontrados. Ainda que identifique e converse sobre o nó não cabe ao terapeuta trabalhá-lo. É necessário sinalizar a sua existência, pontuar o contexto relacional em que o mesmo se encontra e respeitar o desejo do casal de interromper o processo naquele momento. Em alguns casos essa conversação abre espaço para uma discussão sobre continuidade do processo, mas é importante deixar que o casal discuta no espaço familiar, em casa, quais rumos desejam seguir munidos de um feedback do processo vivido, das questões trabalhadas, dos recursos desenvolvidos, dos nós encontrados e dos possíveis desafios .


Quando a terapia de casal é inviável ou contraindicada


A terapia de casal é um contexto que exige preparo de seus integrantes. Como o cliente é a relação, os cônjuges devem estar preparados para falar sobre suas dificuldades, argumentando e escutando de forma efetiva. Qualquer desnível na escuta ou na argumentação pode transformar o setting numa “arena” improdutiva e o trabalho terapêutico não fluirá. Por isso, o terapeuta necessita avaliar se o momento é propício e se as condições são favoráveis para um processo terapêutico.

Nem sempre podemos aceitar um pedido de terapia de casal. Há casos onde devemos contraindicar ou iniciar um processo com sessões individuais no intuito de preparar um ou ambos os cônjuges. Questões relativas ao poder de argumentação, a maturidade emocional de um ou ambos os parceiros, dependências de suas famílias de origem, casos de traição onde o(a) terceiro(a) da relação ainda persiste são circunstância delicadas que merecem ser minuciosamente vistas e avaliadas para que possamos eticamente nos posicionar, enquanto profissionais, com relação ao trabalho de uma terapia de casal. Como nem todo casal que procura terapia está em condição de usufruir de uma terapia de casal, o terapeuta deve avaliar e instruir os parceiros quanto às fragilidades que podem apresentar que inviabilizam o processo terapêutico naquele devido momento ou em qualquer outro.


A primeira delas pode estar relacionada ao desnível de argumentação entre os cônjuges. Isso pode ocorrer porque um deles já é cliente há muito tempo, e sendo mais terapeutizado, “rouba a cena” e intimida o(a) parceiro(a), além de poder ser alguém mais centralizador, habituado a assumir uma preponderância dentro do relacionamento. Deste modo, o problema desses casos consiste não apenas no tempo de terapia de um deles, mas, também, na timidez ou submissão do outro, habituado a não “disputar” seu espaço de escuta no relacionamento.

Passar um tempo com um dos cônjuges em terapia individual pode ser um caminho em direção à futura terapia de casal. O “desnível” de argumentação ou a imaturidade para lidar com os “embates conjugais” de um setting com alto nível de tensão e discussões fervorosas, às vezes, até bélicas, faz com que o terapeuta eleja trabalhar primeiro individualmente o parceiro que demonstra tal fragilidade. Isso se dá aprofundando algumas narrativas referentes aos temas que futuramente serão abordados na terapia de casal, preparando o cônjuge mais “frágil” a sustentar sua argumentação frente ao seu parceiro(a).

Outro problema que inviabiliza a terapia de casal ocorre quando um dos cônjuges está decidido a sair do casamento e o outro insiste numa relação já finita e quer usar o espaço de terapia como única alternativa para estarem juntos. Quando o terapeuta percebe as diferentes motivações para o tratamento e o investimento na relação, bem como as evidências do cônjuge de estar fora da relação, não há como sustentar um pedido de terapia de casal. Nesses casos, cabe ao terapeuta argumentar em favor do mapeamento realizado que traz a clarividência de que apenas um dos cônjuges demonstra interesse na manutenção da relação e o outro cônjuge vem dando sinais de seu desinteresse. Aquele que insiste na terapia precisa ser acolhido na sua dor ou desespero, ao mesmo tempo em que escuta as pontuações do terapeuta sobre a impossibilidade da terapia de casal. Nós, enquanto terapeutas, não podemos ser os mantenedores homeostáticos do relacionamento de nossos clientes. Somos os co-construtores de revisões e restaurações de dilemas conjugais, mas não podemos “fabricar” uma demanda conjugal inconsistente que abasteça apenas a um dos interessados na terapia.


Outra circunstância que inviabiliza a terapia de casal diz respeito a assuntos pendentes de um ou ambos os cônjuges com suas famílias de origem. Em casos de clientes muito imaturos emocionalmente e indiferenciados de seus pais, com um grau de dependência muito grande de seu núcleo de origem, a terapia de casal deve ser postergada. O terapeuta deve seguir com sessões individuais para trabalhar a dependência do cônjuge do seu núcleo de origem, a necessidade de preservar fronteiras entre sua família de origem e o seu relacionamento atual, mantendo mais autonomia e independência para evitar intromissões constantes de seus familiares no sistema conjugal e, apenas após avançar na conscientização e necessidade de preservar essas fronteiras os atendimentos de casal podem ser retomados.


Por fim, já citado em outra seção deste texto, a traição é uma temática inviável ao tratamento terapêutico quando o terceiro da relação ainda permanece presente. Isso dificulta o trabalho em terapia que perpassa pela motivação do casal no relacionamento deles, no compromisso com a terapia e no investimento da revisão e possível restauração dessa relação trincada pela traição. Com o(a) amante presente os espinhos do cacto não deixam as flores florescerem. O terreno mantém as rachaduras que inviabilizam adubos que tratam a terra e germinam possibilidades de um novo relacionamento florescer.


Considerações finais


Um processo de terapia de casal possui diversas nuances, aspectos a serem abordados e estratégias de intervenção que estão vinculadas ao momento em que o casal busca a ajuda terapêutica; à urgência das questões trabalhadas; à interdisciplinaridade necessária ao processo; à disponibilidade dos cônjuges de refletir sobre eles mesmos na relação e identificar esses aspectos é crucial para a efetividade do trabalho. O terapeuta de casal, munido de um marco teórico explorado, estruturado e internalizado, encontrará nos terrenos áridos, com inúmeros nós, os pontos de escavação que podem levar a poças d'água e acompanhar o casal na trilha de encontro a mananciais.


Na liquidez dos relacionamentos atuais a consciência sobre a permanência ou ruptura dos vínculos é cada vez menor, assim como é cada vez maior o desejo de exercer a liberdade afetiva dentro dessa sociedade em transição. Os casais se formam sobre bases algumas vezes inconsistentes, outras contraditórias ou, até, “desconhecidas” e se perdem em muitos conflitos comunicacionais e de manejo dos poderes da individualidades versus os acordos ou “exigências” da coletividade que acompanha o relacionamento. A terapia de casal adentra a vida desses indivíduos auxiliando-os num processo de consciência e corresponsabilização em que há a construção de um contrato, primeiro do contrato terapêutico e posteriormente de um contrato conjugal.


Os diversos tipos de questionamentos, queixas, confrontos e problemáticas que levam os casais à terapia trazem consigo a necessidade do desenvolvimento de distintas habilidades terapêuticas por parte do profissional. Tratar um casal de pais; um casal enlutado; um caso de traição; questões envolvendo as famílias de origem ou questões vinculadas a violência intrafamiliar exigem distintas abordagens. Um terapeuta despreparado, desprovido do embasamento teórico e do investimento necessário para sua compreensão e uso, fará pontuações soltas, desviará dos nós ao invés de buscar formas de desatá-los, não escavará os pequenos pontos úmidos que possibilitarão o encontro com a água necessária para irrigar o solo relacional. Trilhar o solo relacional da aridez ao florescimento é uma tarefa que exige preparo, conhecimento, dedicação e o uso consciente de habilidades terapêuticas construídas e fundamentadas.


Os casais chegam à terapia com suas dores, seus medos, suas angústias e seus sistemas de proteção. Chegam enquanto indivíduos num momento em que a relação está ameaçada e os ameaçando. Chegam com sua identidade relacional fragilizada, despedaçada e precisam encontrar um profissional que possa amparar a dor, entendê-la e identificá-la na relação, contextualizá-la na história e tratar as "feridas" que a desencadeia. Desde o objetivo de discutir as intervenções sistêmicas aplicadas à terapia conjugal, o artigo favorece a capacitação do profissional enquanto incita a reflexão sobre o processo terapêutico com casais do contato telefônico à alta terapêutica. E, além desse aspecto, pulveriza a discussão sobre a importância de oferecer um conhecimento sistematizado àqueles que atuam ou desejam atuar com esse público.


Referências Bibliográficas


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BAUMAN, Zygmunt; DONSKIS, Leonidas. Cegueira moral: a perda a sensibilidade na modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2014.


BRUN, Gladis. In: FEDULLO, Sandra. (2006). Gritos e Sussurros. São Paulo


TURNATURI, Gabriella. Tradimenti. Milano: Giangiacomo Feltrinelli, 2000. 138 p


WHITE, Michael. Mapas da Prática Narrativa. Porto Alegre: Pacartes, 2012.





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