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Equipe de Supervisão

Caroline Góis

Supervisora.

As margens de um rio nos dizem por quais caminhos ele percorreu, se foram abertos pela força de uma correnteza, se foram lapidados vagarosamente por insistentes e minuciosas gotículas de água; as margens de um rio nos apresentam caminhos, ora caudalosos, ora rasos numa mansidão segura que nos convida a entrar e mergulhar; às margens de um rio podemos contemplar, apreciar, e entender por onde queremos caminhar, transitando por passos intensos e vagarosos, desviando, ganhando fôlego... Só precisamos continuar caminhando... sempre e decididamente.

Começo falando da minha trajetória enveredando para aquilo que fui mais presenteada pela vida: a vasta oferta de caminhos possíveis. Acredito que a escolha pela Psicologia perpassa pelo meu desejo de também oferecer a outras pessoas possibilidades, do reencontro com seu passado, ao encontro com já existentes, porem surpreendentes versões de si que dignificam e fazem justiça a quem esse outro pode ser de melhor. Sempre fui tão grata pelo que recebi... da poesia a prosa, das leituras de Agatha Christie a Isaac Asimov, do sentimento seguro de ser amada e cuidada, da confecção participativa de cada detalhe das festas de família, do olhar generoso que acendia a luz das minhas potencias, sem tornar vácuo minhas dificuldades; enfim sempre fui tão grata que tornar-me psicóloga era como uma convocação.

No meu acervo havia um vitral de histórias coloridas vividas (incluindo as acinzentadas) que desejava ansiosamente compartilhar com distintos mundos do meu. Percorri durante 10 anos o mundo da saúde mental, com tentativas insistentes de levar cor para lugares onde quase nada era possível, e assim caminhei por hospitais psiquiátricos, abrigos para portadores de transtornos mentais e depois de jovens em situação de vulnerabilidade, centros de atenção psicossocial, e de tratamento para usuários de substâncias psicoativas; lugares onde encontrar espaço para ampliar as lentes míopes das siglas dos diagnósticos para dialogar não somente com isso mas com o humano demandava um investimento persistente e criativo. 

Quando precisava encontrar fôlego, quando era encharcada pela crença de que “não tem jeito a dar” atrasava o relógio e voltava no tempo da minha história onde reencontrava raízes poderosas que me asseguravam que todo terreno pode ser fértil se nutrido. Daí a conexão com a Psicologia Sistêmica era inevitável, família é sinônimo de raiz, e tantas coisas conseguimos compreender quando olhamos para as nossas raízes, nosso solo. Seguindo esse fluxo e a galope a Terapia Narrativa chegou para brindar o que fazia sentido e produzia significado para mim: o credo de que toda pessoa pode se reconhecer na sua melhor versão e escritura-la como lugar de pertencimento. A Clínica se fazia viva por onde eu caminhava para além das paredes do consultório, ela habitava os jardins dos hospitais, os campos de futebol dos abrigos, as cadeiras de mármore das praças, as enfermarias das maternidades onde também atuei; ela estava selada em mim porque me fornecia o adubo teórico que precisava para validar o que muitos capítulos da minha história já tinham outorgado.

Contribuir na construção de cenários para novos enredos tornou-se minha busca, e nos atendimentos com crianças entendi que não há melhor lugar e tempo que a infância para se plantar e colher. Essa se tornou minha história favorita: poder colaborar desde a aragem para a construção de solos férteis e enredos protagonizados por crianças e pais fortalecidos em suas competências. Como Supervisora tenho o privilégio de semear muitos desses aprendizados e ser abastecida de tantos outros... acredito que existem pessoas que “nascem” para inspirar, outras para apreciar; porém suspeito que com cada um de nós acontece as duas coisas ao longo de toda uma vida que é única e muitas dia após dia...

CRP 03/03437

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